Família vai prestar homenagem nesta terça-feira, em Criciúma, ao casal e a uma das irmãs, falecida dias depois dos pais, também por complicações da doença.
Há seis meses,
Everton de Souza Patrício, de 35 anos, perdeu o pai e a mãe em 24h por
complicações de saúde em decorrência da Covid-19. O casal morava
em Criciúma, no Sul
catarinense. Neste dia de Finados (2), segundo ele, a família deve se reunir no cemitério para rezar pelos dois.
Filha do casal, a irmã de Everton
também morreu vítima da doença, poucos dias depois dos pais. Ela
também será homenageada na data.
"Vamos fazer uma oração para eles no
cemitério. Mas Finados para mim é só uma data. Infelizmente muitas pessoas só
lembram dos seus entes queridos nesta data. Mas eu lembro deles todos os dias.
Para mim, é Finados todos os dias. E vai ser assim para sempre, até eu me
encontrar com eles", afirmou Everton
A mãe dele, Noemi Terezinha Patrício, de 71
anos, morreu dia 5 de abril às 13h45, enquanto que o pai, Manoel Valdemir
Patrício, de 75 anos, faleceu no dia 6, por volta das 14h. O casal havia
completado 52 anos de união no início de abril. Eles foram enterrados lado a
lado no Cemitério Municipal de Criciúma.
"Está sendo bem difícil. E eu pergunto
como consegui falar sobre isso [sobre a morte deles] na época para imprensa.
Agora vejo como eu estava no automático. A dor de verdade está sendo agora.
Muita dor e muita saudade", declarou.
Everton conta que a irmã, de 49 anos, que ficou internada em estado grave na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) por causa da Covid, morreu cerca de sete dias depois dos pais.
"O que eu mais sinto falta é poder
abraça-los e beija-los. Ou tomar um cafezinho com eles, como eu fazia todos os
dias. Quando fala em café, eu sinto até o cheirinho do café que minha mãe
fazia. Meu Deus, é muito complicado", afirmou.
Noemi e Manoel, segundo o filho, ficaram mais de 15 dias internados
depois de positivados pela Covid-19. Everton afirmou que exames laboratoriais
comprovaram que os pais não estavam mais com a doença quando faleceram. Mas as
sequelas deixadas pela Covid agravaram o quadro de saúde deles.
"O vírus morre e deixa sequelas. Foi
parando os rins da minha mãe e do meu pai. A doença também machucou muito o
pulmão dos dois. Enterramos ela no dia 6, e quando eu cheguei em casa para
descansar um pouco, o telefone tocou informando que meu pai tinha falecido
também. É uma tragédia, é muita dor", afirmou ao g1 em 10 de abril de
2021, o filho.
Noemi e Manoel deixaram seis filhos, entre
eles a que faleceu dias depois, 11 netos e cinco bisnetos.
Mudança no jeito
de pensar
Everton, que é profissional do mercado
financeiro, afirma que a perda dos pais e da irmã o fez mudar a forma de
encarar a vida.
"A
gente tem que trabalhar? Tem. Tem que correr atrás? Tem. Mas também não se
matar tanto. Temos que dar mais valor para as pessoas que estão ao nosso
redor", afirmou.
Lidando
com o luto cotidianamente, o filho de Noemi e Manoel diz que se sente
confortado por ter convivido o máximo que pôde com os pais.
"Eu
sempre estive perto deles. Viajava muito com eles, os levava para todos os
lados. A gente deve conduzir a vida de forma mais leve. Ser feliz em vida e
levar a felicidade para as pessoas ao nosso redor", disse.
Segundo Everton, o pai não ficou sabendo do
falecimento da mulher.
"Nenhum dos dois ficou sabendo que o
outro morreu, nenhum deles sofreu com essa notícia. Seria muito difícil
enterrar um e daqui a dez dias, enterrar outro. Deus levou os dois juntos para
um não sofrer sem o outro", diz o filho.
Everton afirma que o casal não chegou a ser
vacinado contra o coronavírus: "não deu tempo". O primeiro a sentir
os sintomas foi o pai, com dor de cabeça e febre. A filha de 49 anos adoeceu
logo em seguida.
"Tentei retirar a minha mãe de casa,
para que ele não fosse infectada. Mas ela se recusou. Disse que jamais iria
sair de casa e deixar meu pai com Covid sozinho. Ela disse que precisava ficar
junto com ele", relembrou o filho.
Por Carolina Fernandes, g1 SC