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'Para mim, é Finados todos os dias', diz filho de idosos mortos pela Covid-19 em SC em menos de 24h

Publicada em: 02/11/2021 11:20 - Famosos

Família vai prestar homenagem nesta terça-feira, em Criciúma, ao casal e a uma das irmãs, falecida dias depois dos pais, também por complicações da doença.



Há seis meses, Everton de Souza Patrício, de 35 anos, perdeu o pai e a mãe em 24h por complicações de saúde em decorrência da Covid-19. O casal morava em Criciúma, no Sul catarinense. Neste dia de Finados (2), segundo ele, a família deve se reunir no cemitério para rezar pelos dois.

Filha do casal, a irmã de Everton também morreu vítima da doença, poucos dias depois dos pais. Ela também será homenageada na data.

"Vamos fazer uma oração para eles no cemitério. Mas Finados para mim é só uma data. Infelizmente muitas pessoas só lembram dos seus entes queridos nesta data. Mas eu lembro deles todos os dias. Para mim, é Finados todos os dias. E vai ser assim para sempre, até eu me encontrar com eles", afirmou Everton

 

 

A mãe dele, Noemi Terezinha Patrício, de 71 anos, morreu dia 5 de abril às 13h45, enquanto que o pai, Manoel Valdemir Patrício, de 75 anos, faleceu no dia 6, por volta das 14h. O casal havia completado 52 anos de união no início de abril. Eles foram enterrados lado a lado no Cemitério Municipal de Criciúma.

"Está sendo bem difícil. E eu pergunto como consegui falar sobre isso [sobre a morte deles] na época para imprensa. Agora vejo como eu estava no automático. A dor de verdade está sendo agora. Muita dor e muita saudade", declarou.

Everton conta que a irmã, de 49 anos, que ficou internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa da Covid, morreu cerca de sete dias depois dos pais.

"O que eu mais sinto falta é poder abraça-los e beija-los. Ou tomar um cafezinho com eles, como eu fazia todos os dias. Quando fala em café, eu sinto até o cheirinho do café que minha mãe fazia. Meu Deus, é muito complicado", afirmou.

 

 

Noemi e Manoel, segundo o filho, ficaram mais de 15 dias internados depois de positivados pela Covid-19. Everton afirmou que exames laboratoriais comprovaram que os pais não estavam mais com a doença quando faleceram. Mas as sequelas deixadas pela Covid agravaram o quadro de saúde deles.

 

"O vírus morre e deixa sequelas. Foi parando os rins da minha mãe e do meu pai. A doença também machucou muito o pulmão dos dois. Enterramos ela no dia 6, e quando eu cheguei em casa para descansar um pouco, o telefone tocou informando que meu pai tinha falecido também. É uma tragédia, é muita dor", afirmou ao g1 em 10 de abril de 2021, o filho.

Noemi e Manoel deixaram seis filhos, entre eles a que faleceu dias depois, 11 netos e cinco bisnetos.

Mudança no jeito de pensar

 

 

Everton, que é profissional do mercado financeiro, afirma que a perda dos pais e da irmã o fez mudar a forma de encarar a vida.

"A gente tem que trabalhar? Tem. Tem que correr atrás? Tem. Mas também não se matar tanto. Temos que dar mais valor para as pessoas que estão ao nosso redor", afirmou.

Lidando com o luto cotidianamente, o filho de Noemi e Manoel diz que se sente confortado por ter convivido o máximo que pôde com os pais.

"Eu sempre estive perto deles. Viajava muito com eles, os levava para todos os lados. A gente deve conduzir a vida de forma mais leve. Ser feliz em vida e levar a felicidade para as pessoas ao nosso redor", disse.

 

 

Segundo Everton, o pai não ficou sabendo do falecimento da mulher.

"Nenhum dos dois ficou sabendo que o outro morreu, nenhum deles sofreu com essa notícia. Seria muito difícil enterrar um e daqui a dez dias, enterrar outro. Deus levou os dois juntos para um não sofrer sem o outro", diz o filho.

Everton afirma que o casal não chegou a ser vacinado contra o coronavírus: "não deu tempo". O primeiro a sentir os sintomas foi o pai, com dor de cabeça e febre. A filha de 49 anos adoeceu logo em seguida.

"Tentei retirar a minha mãe de casa, para que ele não fosse infectada. Mas ela se recusou. Disse que jamais iria sair de casa e deixar meu pai com Covid sozinho. Ela disse que precisava ficar junto com ele", relembrou o filho.

 



Por Carolina Fernandes, g1 SC

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