Na Globo desde
1971, a carioca foi a primeira repórter a entrar ao vivo e em cores no Jornal
Nacional. De 1998 a 2007, ela apresentou o Fantástico e, desde 2010, integrava
a equipe do Globo Repórter.
A jornalista Glória Maria, ícone da TV brasileira, morreu no Rio de Janeiro nesta
quinta-feira (2). “É com muita tristeza que anunciamos a morte de nossa colega,
a jornalista Glória Maria”, informou a TV Globo, em nota.
Em 2019, Glória foi diagnosticada com um
câncer de pulmão. O tratamento com imunoterapia teve sucesso. Depois, ela
sofreu metástase no cérebro, que também pôde, inicialmente, ser tratada com
êxito por meio de cirurgia, mas os novos tratamentos não avançaram.
“Em meados do ano passado, Glória Maria
começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais
que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu
esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, afirma o comunicado.
Pioneira
Glória foi pioneira inúmeras vezes. Ela foi a
primeira a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, mostrou mais de 100
países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos.
“Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar pra
pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade pra ir,
deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa.”
Vida e
carreira
Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio de
Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves
Matta, estudou em colégios públicos e sempre se destacou. “Aprendi inglês,
francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”, lembrou, ao
Memória Globo.
Glória também chegou a conciliar os estudos na faculdade
de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de
telefonista da Embratel.
Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da
Globo do Rio. Naquele tempo sem internet, ela descobria o que acontecia na
cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e fazendo rondas ao telefone,
ligando para batalhões e delegacias.
Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os
jornalistas ainda não apareciam no vídeo. A estreia como repórter foi em 1971,
na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro.
“Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o
primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”.
Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom
Dia Rio. Coube a ela a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre
a febre das corridas de rua.
No Jornal Nacional, foi a primeira
repórter a aparecer ao vivo. Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington e, no
Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de estado, como o
ex-presidente João Baptista Figueiredo.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu
prendo e arrebento’ – para defender a abertura [1979]. Na hora, o filme [para
fazer a gravação da entrevista] acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu
pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia
repetir?'. 'Problema seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. O
ex-presidente dizia para a segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto
de mim’”, relembrou.
Sucesso no
Fantástico
A partir de 1986, a jornalista integrou a
equipe do Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. Ficou conhecida
pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos, e por entrevistar
celebridades como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di
Caprio e Madonna.
Com a cantora, Glória teve um encontro que definiu como
especial. “Eu saí daqui, e diziam que a Madonna era difícil. Foi
antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”. Ao chegar,
Glória Maria foi informada de que tinha quatro minutos para entrevistar
Madonna.
A repórter contou que entrou em pânico. Mas, na hora,
falou: “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou
assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua surpresa, a estrela
virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Viagens a
mais de 100 países
Para o Fantástico, a jornalista viajou por
mais de 100 países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando
mostrou um mundo novo ao telespectador.
Foi a repórter que entrou no ar ao vivo, na primeira
matéria com imagem colorida do Jornal Nacional, em 1977, mostrando o movimento
de saída de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana. Naquele dia, foram
usados equipamentos portáteis de geração de imagens.
Na primeira cena, a lâmpada queimou e a repórter passou
seu primeiro sufoco no ar.
“Eu estava dura, rígida, porque não podia errar. Era a
primeira entrada ao vivo. Faltavam cinco, dez minutos, era o técnico que ficava
com o fone para me dar o ‘vai’. Quando a lâmpada queimou, faltava um minuto
para a entrada ao vivo. O jeito foi acender a luz da Veraneio (carro usado pela
emissora nas reportagens).” O repórter cinematográfico e a repórter tiveram que
ficar de joelhos, com o farol no rosto de Glória Maria, e a matéria entrou no ar.
A jornalista cobriu a guerra das Malvinas (1982), a
invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os
Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Primeira
transmissão em HD
Em 2007, ao lado do repórter cinematográfico
Lúcio Rodrigues, a jornalista realizou a primeira transmissão em HD da
televisão brasileira. Foi uma reportagem no Fantástico sobre a festa do pequi,
fruta de cor amarela adorada pelos índios Kamaiurás, no Alto Xingu.
Volta ao mundo no Globo Repórter
Após 10 anos no Fantástico, Glória Maria
tirou dois anos de licença para se dedicar a projetos pessoais, como as viagens
à Índia e à Nigéria, onde trabalhou como voluntária. Nesse período, adotou as
meninas Maria e Laura e, ao retornar à Globo, em 2010, pediu para integrar a
equipe do Globo Repórter, programa do qual faz parte até hoje.
Estreou com a matéria “Brunei Darussalam: A Morada da
Paz”; um ano depois fez “Brunei, O País da Felicidade” – as duas matérias sobre
o pequeno sultanato no Sudeste Asiático, na fronteira com a Malásia.
Em 2010, esteve no Grand Canyon, nos Estados Unidos, quando
andou de balão e desceu de bote o Rio Colorado. No mesmo ano fez Duas Chinas,
também para o Globo Repórter, e apresentou ainda o especial de Roberto Carlos
na Praia de Copacabana.
Glória foi escolhida pelo Rei para a entrevista que
concedeu em sua residência e na qual ele acabou cantando para ela. Em 2011,
apresentou o show que o cantor fez em Jerusalém. Na ocasião, Roberto Carlos
tirou a apresentadora para dançar.
Em 2012, a jornalista mostrou o Oásis da paz
em Omã e fez um passeio com camelos pelo deserto. Logo depois, passou por
Dubai.
A França foi um dos países visitados em 2013.
Na ocasião, foram exibidas as belezas do Vale do Loire, Champagne e Provence.
No mesmo ano, revelou a cultura e os costumes dos moradores do Vietnã, Laos e
Camboja. Passou também por Myanmar, no sul da Ásia, onde fez reportagens sobre
o misticismo na região.
As paisagens do Reino Unido, Suécia e Lapônia
foram temas do Globo Repórter em 2014.
No ano seguinte, a jornalista mostrou as
belezas de Marrocos, como a cidade azul, Marrakesh, os encantadores de serpente
e a colheita do argan feita pelas cabras. Cruzou o deserto do Saara em um
dromedário e mostrou a vida dos povos nômades.
Em 2016, visitou a Jamaica, onde teve a
oportunidade de entrevistar o campeão mundial de atletismo Usain Bolt e
participou dos rituais de uma comunidade rastafári.
Em 2017, Glória Maria foi à China e fez
matérias em Hong Kong, onde cuidou de um panda gigante, e pulou do mais alto
bungee-jump do mundo em Macau, com 233 metros de altura.
Em
setembro de 2019, Sérgio Chapelin se aposentou, após 23 anos no Globo Repórter.
A partir daquele mês, Glória Maria passou a dividir a apresentação do programa
com a jornalista Sandra Annenberg.
Morre a jornalista
Glória Maria, ícone da TV