Agência ficará livre da tutela militar, e mundo acadêmico será ouvido na reformulação.
Uma das prioridades da nova Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
será a de identificar e monitorar grupos extremistas nas redes sociais para se
antecipar a ataques à democracia, como os ocorridos no dia 8 de janeiro. Os
financiadores de grupos de disseminação do discurso de ódio vão merecer atenção
especial da inteligência.
Esta é apenas
uma das mudanças na filosofia de atuação da agência, que ficará, finalmente,
livre da tutela militar. O mundo acadêmico será ouvido na reformulação da atual
estratégia atual da Abin, definida no governo Temer pelo general Sérgio
Etchegoyen. A linha de atuação da Abin está expressa na Política Nacional de
Inteligência e na Estratégia Nacional de Inteligência. Os dois documentos serão
revisados.
Em resumo: a Abin vai deixar de bisbilhotar a vida de inimigos do
governo, essência do antigo Serviço Nacional de Informações dos militares, e
passará a contribuir com inteligência para ajudar em políticas públicas.
Nas conversas
com interlocutores do governo, o futuro chefe da agência, delegado Luiz
Fernando Corrêa, costumava dar um exemplo prático: se a fome é um grande
flagelo nacional, a Abin não pode ficar de fora do tema. E como seria essa
contribuição? Assim como são conhecidos os gargalos da infraestrutura do
agronegócio, a inteligência de estado colaboraria no sentido de apontar os
gargalos da "agricultura familiar", um dos pilares do combate à
miséria.
Para quem
estava acostumado a associar a Abin à arapongagem, imagem reforçada ao extremo
pelo governo Bolsonaro, a reviravolta impressiona. Temas como aquecimento
global, desmatamento da Amazônia, ataques a povos originários, garimpo ilegal e
até ameaças ambientais à plantação de soja passariam a ser pautas do órgão de
inteligência.
A Abin foi
criada no governo Fernando Henrique para ser uma agência de inteligência civil,
mas rapidamente foi cooptada pelos militares, ficando subordinada ao GSI,
antiga Casa Militar.
A presidente
Dilma foi a única, após FHC, a tentar dar um caráter civil à inteligência do
estado. Ela ficou revoltada porque a Abin, além de não prevenir, nunca soube
explicar como ela foi grampeada pelo governo norte-americano. Dilma reclamava
que recebia um relatório "chulé" da inteligência, com notícias que já
haviam saído nos jornais.
Justiça seja feita, a Abin,
sob guarda-chuva do GSI, não foi incompetente apenas no governo Dilma. No governo
Temer não antecipou a greve dos caminhoneiros e, no próprio governo Bolsonaro,
não percebeu que aviões da FAB, da comitiva presidencial, transportavam cocaína.
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