Jean Carlos e Igor de Andrade apontam que órgãos municipais foram negligentes quando a menina precisava de atenção, além disso não houve qualquer contato da prefeitura antes de denominarem o local de acolhimento para crianças vítimas de violência
Sem ter sido avisados ou terem recebido um pedido formal da prefeitura de Campo Grande para que o nome de Sophia Ocampo, violentada e morta aos dois anos, fosse usado para batizar o complexo de acolhimento para crianças vítimas de violência, Jean Carlos Ocampo, pai biológico da menina, e Igor Andrade, pai afetivo dela, ficaram revoltados com a ideia de que a filha dê nome ao local, que será inaugurado nesta terça-feira (3).
Ao Correio do Estado, a advogada Janice Andrade, que representa o casal, disse que chegou a mandar uma mensagem para o número pessoal da prefeita da Capital, Adriane Lopes, e classificou o uso do nome da vítima como falta de respeito tanto com a menina quanto com a família dela, que luta há nove meses por justiça.
A advogada ainda disse que o caso será judicializado, uma vez que a profissional pretende entrar com um processo contra a prefeitura por toda a omissão sistêmica da Secretaria Municipal de Saúde quanto do Conselho Tutelar.
Conforme já amplamente mostrado pelo Correio do Estado, a menina foi levado mais de 30 vezes à unidades de saúde, principalmente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Coronel Antonino, mas ninguém da equipe médica notificou a suspeita do caso de violência, mesmo a criança mostrando marcas de espancamento e ter quebrado a tíbia, osso que fica na região do joelho.
Por sua vez, o Conselho Tutelar será processado por todo descaso com o qual tratou o assunto. Jean buscou por mais de um ano ter a guarda da filha, mas o conselho foi omisso e não tomou as devidas providências para que a vida da menina fosse resguardada.
Este é apenas um dos motivos para que os pais da garotinha não autorizem o uso do nome ou de imagens de Sophia. Além disso, a advogada aponta que a obra e o evento chamado “Semana da Criança”, no qual o complexo foi anunciado, tem o apoio de igrejas evangélicas, inclusive com fotos de Adriane ao lado do Presidente do Conselho de Pastores Evangélicos de MS, Wilton Acosta.
O pastor inclusive chegou a gravar um vídeo pouco antes da eleição para conselheiros tutelares, defendendo que a igreja tem o direito, segundo ele, constitucional, de opinar e indicar candidatos para atuar nos cargos em disputa, o que contraria totalmente o defendido por Jean Carlos e Igor.
Ambos acreditam que o descaso com o Sophia se deu principalmente porque eles formam um casal homoafetivo, assim, o Conselho Tutelar agiu por homofobia e se recusou a atuar para que a guarda da menina fosse passada para o pai, mesmo com diversas provas de que a vítima passava por agressões enquanto morava com a mãe e o padrasto. Ambos são acusados pela morte da criança.
Em resposta à mensagem enviada hoje cedo pela advogado, Adriane disse que o uso do nome Sophia “não teve intenção de afrontar” e se desculpou, mas sem deixar claro se a denominação irá permanecer.
Mas, Janice adiantou que o nome não será usado. “Não vai usar. Vamos à Justiça para ela não usar o nome da Sophia porque isso é uma falta de respeito”, concluiu.
Ao Correio do Estado, a advogada que representa o casal afirmou que chegou a mandar mensagem para Adriane Lopes (PP), na qual ela falou que o uso do nome Sophia “é o cúmulo do desrespeito com a vítima e com a família”, que segue buscando por justiça há nove meses.