Caminhão transportava suprimentos alimentares quando foi atingido; a
última vez que a organização conseguiu entregar alimentos na região .
Forças
israelenses dispararam contra um comboio das Nações Unidas que transportava
suprimentos alimentares no centro da Faixa de Gaza em 5 de fevereiro, antes
de impedir o avanço dos caminhões para o norte do território, de acordo com
documentos da ONU obtidos pela CNN. Correspondências
da organização e do Exército de Israel mostram
que a rota do comboio foi acordada por ambas as partes antes do ataque.
Segundo um relatório de incidente interno compilado pela UNRWA, a
principal agência de ajuda humanitária da ONU no enclave, o caminhão estava
estacionado num ponto de retenção das Forças Armadas de Israel quando foi alvo
de disparos. Ninguém ficou ferido, mas grande parte dos itens foi destruída. O
ataque expõe os desafios enfrentados para ajudar os mais de 2 milhões de
habitantes em Gaza, onde quase 85% estão deslocados
internamente, pontuou a CNN.
A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza começou após o ataque do grupo terrorista Hamas no
território israelense em 7 de outubro, no qual ao menos 1,2 mil pessoas morreram e mais de 250
foram feitas reféns. Do lado palestino, mais de 29 mil pessoas morreram nos
ataques retaliatórios, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
'Um dos lugares mais perigosos'
Depois do ataque de 5 de fevereiro, a UNRWA decidiu parar de enviar
comboios para o norte do território. Segundo os documentos obtidos pela
publicação, a última vez que a agência conseguiu entregar alimentos na região
foi em 23 de janeiro. A ONU estima que 300 mil pessoas ainda vivam no norte,
onde recebem pouca assistência. Antes da guerra, duas em cada três pessoas já
dependiam de apoio alimentar. Agora, agências das Nações Unidas alertam que
Gaza passou a ser um lugar “inabitável”.
A UNRWA disse à CNN que as viagens dos comboios são feitas cedo para
evitar que as doações sejam saqueadas por pessoas desesperadas por comida. Partindo do sul de
Gaza, o comboio seguiu pela estrada al-Rashid, a principal rota permitida pelo
Exército israelense para ajuda humanitária e evacuações desde janeiro. Às 4h15,
os veículos chegaram a um ponto de retenção das Forças Armadas, onde ficaram
parados mais de uma hora. Às 5h35 ouviram-se tiros, e o caminhão foi atingido.
A agência afirmou que, antes de sair para entregar ajuda, havia
coordenado com o Exército, algo que sempre faz. À publicação americana, a
diretora global de comunicações da UNRWA, Juliette Touma, disse que as
coordenadas dos comboios e a rota deles são compartilhadas com Israel, e que
somente quando a equipe recebe a aprovação israelense a organização se move. O
objetivo, afirmou, é garantir que a ajuda não seja atingida.
— Gaza se tornou muito rapidamente um dos lugares mais perigosos para se
trabalhar como trabalhador humanitário — disse ela à CNN. — É um ambiente
extremamente complexo para operar. Muitas vezes nossas equipes são obrigadas a
entregar assistência humanitária sob fogo.
Missões interrompidas
No X (antigo Twitter), o diretor da UNRWA, Tom White, disse que o
comboio foi atingido por israelenses. Ele compartilhou imagens que mostravam o
caminhão afetado. Assessora jurídica da organização, Philippa Greer disse que
estava no comboio atacado. Ela publicou que a equipe teve “muita sorte” por não
ter se ferido. A organização ainda solicitou permissão para prosseguir por um
posto de controle israelense que supervisiona a entrada no norte de Gaza, mas o
pedido foi negado.
Em comunicado à CNN, o Departamento de Estado dos EUA classificou como
“inaceitável” o ataque de 5 de fevereiro e disse que a assistência humanitária
precisa chegar aos civis. “Em todas as conversas que estamos tendo com o
Governo de Israel, enfatizamos a necessidade absoluta de os trabalhadores
humanitários poderem distribuir assistência com segurança e de os civis poderem
acessar assistência, e de Israel tomar todas as precauções viáveis para
proteger civis”, disse.
De acordo com a agência, metade das missões de ajuda da UNRWA para o
norte de Gaza foram negadas desde o início do ano. Outras rotas passaram a ser
intransitáveis devido a detritos e crateras. Nesse cenário, o Programa Mundial
de Alimentos anunciou que irá interromper as missões para o norte do enclave
“até que condições estejam em vigor para permitir distribuições seguras”. A
decisão foi tomada porque outro comboio também teria sido recebido a tiros no
território.
Por O Globo e agências internacionais — Gaza