Prevenção e programas efetivos de combate e conscientização quanto aos efeitos nocivos da prática são fundamentais para a qualidade de vida dos profissionais
Campo Grande - O tema assédio moral e seus reflexos na saúde física e mental dos trabalhadores centralizou os debates de mais um evento organizado pelo Comitê Regional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, do MPT-MS. A iniciativa ocorreu na última sexta-feira (6), na sede da regional em Campo Grande, sendo direcionada ao público interno da instituição.
Assunto de grande relevância nas relações laborais, o assédio moral foi abordado em palestra ministrada pela médica Karina Cestari de Oliveira, vice-presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria.
Durante o encontro, Cestari ressaltou a relação entre o indivíduo e o trabalho, destacando que este pode ser uma ferramenta de transformação pessoal e social, mas também um fator de adoecimento mental. Segundo a palestrante, elementos como predisposição genética, jornadas exaustivas e sobrecarga de demandas podem contribuir para o surgimento de transtornos psicológicos.
“O assédio moral interfere na saúde física e mental do indivíduo, agindo como um agente de repercussão catastrófica ao trazer profundos e destrutivos impactos psíquicos e comportamentais à sua vida”, observou Karina Cestari.
A psiquiatra esclareceu que o problema normalmente ocorre quando um indivíduo sofre condutas hostis de maneira contínua e repetitiva, sem que tenha concorrido para essas ações. Além disso, o assédio moral não atinge um grupo de pessoas indistintamente, mas sim alvos específicos, dentro de um mesmo espaço organizacional. “Não é consensual um período exato, sendo essencial, no entanto, identificar a prática continuada e insistente”, disse.
Ao longo do evento, foram elencadas práticas que tipificam o assédio moral no trabalho, as quais incluem condutas voltadas à deterioração proposital das condições de trabalho (como retirar a autonomia da vítima, induzi-la ao erro e contestar, sistematicamente, todas as suas decisões), ações de violência verbal, física e sexual e limitação de acesso a direitos. Segundo a palestrante, essas atitudes não devem ser confundidas com conflitos pontuais entre colegas, pois, diferentemente dos desentendimentos ocasionais, o assédio moral é duradouro, direcionado e intencional.
“No conflito, as divergências de visão entre os profissionais são deixadas às claras, enquanto no assédio moral as agressões podem ser difusas e implícitas. Outra diferença é que, na primeira situação, o clima organizacional não sofre mudança. Já, no assédio moral, o clima organizacional se torna conturbado, há negação da existência dessa conduta e a interação fica confusa, dissimulada e indefinida, podendo levar ao isolamento, demissão ou exoneração da vítima”, exemplificou Cestari.
A Organização Mundial da Saúde já reconhece o assédio moral como um problema de saúde pública, que pode desencadear diversos transtornos mentais como ansiedade, depressão e até mesmo suicídio.
Burnout
Outro tema discutido foi a Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional ligado ao trabalho e causado por estresse crônico, resultando em exaustão extrema, baixa autoestima profissional e desmotivação. O fenômeno tem se tornado cada vez mais comum em ambientes corporativos competitivos, onde profissionais atuam, diariamente, sob pressão e com responsabilidades constantes.
A palestra também trouxe atualizações sobre a Norma Regulamentadora nº 1, que, a partir de maio de 2026, passará a considerar os fatores de risco psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. A medida busca garantir que as empresas ampliem sua atenção à saúde mental e ao bem-estar emocional dos trabalhadores. “Nesse conjunto de riscos psicossociais, estão metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais e falta de autonomia no trabalho”, pontuou a psiquiatra.
Por fim, o evento destacou a importância de ações preventivas e programas de conscientização no combate ao assédio moral. Segundo Cestari, eliminar o estigma sobre o adoecimento mental e garantir apoio psicológico e médico adequado são fundamentais para preservar a qualidade de vida dos profissionais.
Não se cale!
A denúncia é uma importante ferramenta para que se quebre o ciclo de violência dentro do ambiente de trabalho. Toda pessoa que for vítima ou presenciar cenários que possam configurar assédio moral ou sexual pode denunciar ao MPT. Para isso, basta acessar o link www.prt24.mpt.mp.br/servicos/denuncias. As comunicações ainda podem ser feitas por meio do aplicativo MPT Pardal, acessível nos sistemas operacionais Android e iOS.
Além dos canais oficiais disponibilizados pelo MPT, as instituições, sejam públicas ou privadas, podem contribuir com a prevenção de episódios de assédio ao criarem espaços específicos de confiança e diálogo, como ouvidorias – contendo regras claras de funcionamento, apuração e sanção de atos de assédio, bem como planejarem e organizarem o trabalho de forma equitativa e não discriminatória, buscando valorizar as potencialidades dos seus empregados.
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