Primeira mulher a exercer a presidência
da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, Simone Tebet
(MDB-MS) concorre com outros três colegas do partido (Eduardo Gomes, Fernando
Bezerra Coelho e Eduardo Braga) ao cargo de presidente da Casa. Se eleita,
Tebet será também a primeira mulher a ocupar a prestigiada cadeira do
Legislativo federal. Sobre a demora do MDB em apontar o candidato escolhido
para o pleito, a senadora relata que a sigla reúne pensamentos plurais, mas
busca construir o consenso. “O Senado sempre teve o seu tempo e, diferentemente
da Câmara dos Deputados, o processo está apenas começando”, argumenta. Sobre a
relação do Senado sob seu mandato com o presidente Jair Bolsonaro, ela garante
que o parâmetro será de governabilidade e “do que for bom para o país”.
Simone Tebet herdou a veia política da
senadora é herança de seu pai, Ramez Tebet, presidente do Senado entre 2001 e
2003 e ex-governador do Mato Grosso do Sul, morto em 2006. De perfil
conciliador, a candidata afirma que as mulheres, embora sejam maioria na
sociedade brasileira, ainda estão ausentes nos espaços de poder do País. “A
galeria de fotos dos ex-presidentes do Senado é devedora com as mulheres
brasileiras”, ressalta. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista de
Simone Tebet ao Correio.
Por que concorrer à Presidência do Senado?
Trata-se de um entendimento, que acredito ser da maioria de senadores, de que o
Senado exerça, com independência, sem perder a harmonia, de fato, o seu papel
institucional e político, bem a propósito de sua própria história, quando
chamado a atuar nas nossas maiores crises. A pandemia do novo coronavírus traz
como reflexo uma das maiores crises econômicas dos últimos tempos. O Senado
precisa estar cada vez mais próximo dos grandes interesses e necessidades da
população brasileira. Nossa agenda deve ser a do desenvolvimento, geração de
emprego, reformas estruturantes, recursos voltados a políticas públicas de
habitação, saúde, educação. Essas pautas precisam estar na mesa (em 2021). A
população brasileira exige respostas urgentes.
A que a senhora atribui a demora do MDB
em decidir por um candidato?
O MDB não poderia pregar a democracia externa se, internamente, não a
exercesse. O MDB tem uma história de aglutinar diferentes pensamentos. Mas ele
também construiu essa mesma história por meio da construção de consensos. Como
partido, e com a busca do devido respeito à proporcionalidade que, julgo, ser
um instrumento importante na construção da boa política, buscamos, entre os
demais senadores, conteúdos e moldes políticos para fazer um Senado que cumpra
seu papel institucional com harmonia e independência. Fora disso, de nada
valerá a postulação ao cargo. Sei que a razão do tempo muitas vezes conspira, e
o processo foi antecipado pelo lançamento da candidatura do Pacheco (Rodrigo
Pacheco, DEM-MG) pelo presidente da Casa, mas o Senado sempre teve o seu tempo
e, diferentemente da Câmara dos Deputados, o processo está apenas começando.
Os líderes do governo no Senado e no
Congresso são emedebistas. Mas Alcolumbre também é próximo de Bolsonaro. Como o
Planalto deveria se posicionar na disputa?
Com neutralidade. Existem duas palavras que não precisam ser mágicas, porque
elas não saem de cartolas; estão gravadas na Constituição: harmonia e
independência. O presidente do Senado é, também e ao mesmo tempo, presidente do
Congresso Nacional. Cabe a ele fazer valer e exercitar esses dois postulados
constitucionais. O mesmo deve ocorrer com os chefes dos outros Poderes. Quanto
à fidelidade do MDB, ela sempre se direcionou às propostas do governo que se
mostraram, ou que se mostrem, necessárias ao país, independente de que governo.
Como ficaria a relação entre o MDB e o
governo em caso de apoio do Executivo ao candidato de Alcolumbre?
Não sei se esse alegado apoio é baseado em fatos. O MDB, a meu ver e a meu
sentir, vai continuar defendendo o melhor para o Brasil, em clima de harmonia e
de independência, repito.
E quanto à sua relação com o governo
Bolsonaro? A senhora tem feito críticas, mas também apoia medidas econômicas do
Planalto.
Permita-me dizer que a minha atuação política é um exemplo de como é possível pautar-se
pela harmonia e pela independência. Eu nunca disse “isso é bom (ou mau) para o
governo”. Defendi todas as teses e votei favorável a tudo o que, no meu
julgamento e segundo a minha consciência, é bom para o país. Estão errados os
que julgam que a independência fere a harmonia. Ao contrário, porque a
dependência é que fere a democracia. Os três poderes saem fortalecidos, se
obedecidos esses dois postulados.
Há pressão de senadores pela volta do
auxílio emergencial. Como avalia essa questão?
Essa pressão não se origina nos senadores, mas na realidade brasileira, que se
desnudou ainda mais, nesses nossos tempos de pandemia. Uma realidade com as
maiores disparidades sociais de todo o planeta. Com o desemprego que já
ultrapassou o teto das nossas preocupações. Com a fome que ronda, cada vez
mais, as famílias brasileiras, temos de fazer algo, e esse algo tem de ser
urgente, porque a fome não espera. A vida é agora. O Senado nunca faltou a esse
chamado, vindo na forma de lamentos de dor. Não será diferente agora,
independente de quem postula, e de quem assumirá, a presidência da Casa.
A invasão do Capitólio nos EUA pode se
repetir no Brasil?
Não há como negar que a democracia foi atacada lá. Mas a própria democracia
demonstrou possuir condições plenas de autodefesa. Também não será diferente
aqui. A nossa democracia é mais jovem que a de lá, e sofreu muito mais
solavancos ao longo da nossa história, mas ela também se mostra fortalecida. A
qualquer movimento de invasão às nossas instituições democráticas, nós
estaremos de prontidão com saídas constitucionais.
Se eleita, a senhora será a primeira
mulher a ocupar a presidência da Casa. Como se sente a respeito?
Agora, em um degrau superior, sinto o mesmo que quando assumi, como a primeira
mulher, a presidência da CCJ do Senado: um misto de orgulho pelo fato e de
indignação com a história. Afinal, não deixa de ser mais um exemplo de como a
mulher brasileira demorou tanto a ocupar espaços de poder no nosso país. Somos
a maioria da população, dos eleitores, dos estudantes universitários, e o
timbre de voz da direção maior do Legislativo brasileiro continua sendo
masculino. A galeria de fotos dos ex-presidentes do Senado é devedora com as
mulheres brasileiras.